Na recente edição do Fórum Abrafati da Indústria de Tintas, realizada no dia 20 de setembro, temas essenciais para o nosso setor foram abordados. Um primeiro bloco mostrou uma visão panorâmica da situação e das perspectivas na política e na economia, apresentada de maneira muito consistente pelo cientista político Cristiano Noronha, da consultoria Arko Advice, e pela economista Adriana Dupita, do Banco Santander. Na sequência, nossa tradicional pesquisa interativa dataFATI revelou as expectativas do público presente – cerca de 150 executivos da indústria de tintas e de seus fornecedores – em relação aos mesmos temas e ao desempenho do setor de tintas em 2018 e 2019. As análises e as opiniões dos presentes mostraram que há espaço para melhoria em relação à conjuntura atual, com um crescimento econômico maior no próximo ano (podendo até superar 3%) e boas possibilidades de aprovação de reformas essenciais para o País. O setor de tintas também deve ter resultado mais positivo, crescendo em ritmo superior ao verificado neste ano e no anterior.
Um segundo bloco de apresentações teve foco no varejo de tintas e na experiência do consumidor, trazendo importantes informações e insights sobre o que a cadeia de tintas como um todo deve fazer para aumentar as vendas do produto e, mais do que isso, fazer crescer o valor percebido pelos usuários. A palavra-chave que surgiu nas apresentações feitas por Fernando Baialuna, Diretor de Retail Sales na consultoria GfK, e Newton Guimarães, diretor Grupo Revenda e head da consultoria DataMkt Construção, foi Inovação. E é exatamente nesse termo e na sua importância para o setor que quero me deter.
É consenso que existe um grande espaço para o aumento do consumo de tintas no País, que a gradual retomada de confiança do consumidor e do crescimento econômico impulsionará. Basta pensar na demanda reprimida em relação às reformas e repinturas de imóveis, à construção habitacional, à infraestrutura, ao consumo de diferentes bens (que usam tintas).
Entretanto, devemos ir além de apenas atender à demanda reprimida. É preciso criar novas demandas e transformar a tinta e a pintura em objetos de desejo. Isso exige ousadia e novos olhares, que são facilitados pela tecnologia – pensem no big data, por exemplo, com o processamento de um volume incomensurável de informações e dados, gerando conhecimentos.
Os fabricantes atuantes no Brasil têm todas as condições de inovar, sair da estagnação, criar soluções que encantem e surpreendam o potencial comprador – como já vêm fazendo, com o apoio decisivo dos seus fornecedores. O caminho é esse e não tem volta. Temos de oferecer ao mercado tintas cada vez mais avançadas, agregando valor a elas. Isso vale para as tintas imobiliárias, que representam o maior volume do nosso setor, e também para todos os demais tipos (embora deva ser ressaltado que o trabalho nesse sentido está mais adiantado em segmentos como as tintas automotivas originais e as que se destinam a diversos setores industriais).
Inovar significa, por exemplo, incorporar novas características e funcionalidades às tintas, de que são exemplos bem sucedidos a secagem cada vez mais rápida, a eliminação do odor, a ação antibactéria ou repelente de mosquitos, a autorregeneração (ou self-healing), o monitoramento (via sensores ou outros recursos) de vazamentos ou rachaduras e tantos outros. Inovar também é criar e oferecer utilizações diferenciadas (tintas magnetizadas, tintas que conferem o “efeito lousa” etc.), assim como desenvolver produtos para aplicações específicas (pintura de telhas, azulejos, pisos, gesso, tetos, decks de piscinas, hospitais etc.). Ou ainda inovar nas propriedades adicionais conferidas pelas tintas (com efeitos, por exemplo, na adequação da luminosidade ou da temperatura do ambiente).
No Fórum Abrafati, também foi destacada a necessidade – já apontada em diversas ocasiões anteriores – de inovar para tornar mais fácil a aplicação da tinta imobiliária, o que incentivaria mais gente a pintar seus imóveis com maior frequência. Logicamente, elevar a barra em termos de qualidade das tintas e de cumprimento dos princípios mais avançados da sustentabilidade faz parte desse conjunto de demandas ligadas à inovação.
Apostando nesse caminho, com o indispensável apoio de todos os elos da cadeia de produção e distribuição, vamos aumentar o valor percebido das tintas, o que resultará em mais e melhores vendas, fazendo o mercado entrar em um círculo virtuoso: quanto mais se vende, mais estímulo à inovação; quanto mais inovação, mais se vende.
A Abrafati tem como um de seus pilares proporcionar oportunidades de relacionamento. Consideramos que, quanto mais somos expostos a ideias e pessoas com visões diferentes, mais expandida torna-se nossa percepção. Neste momento, chegou a hora de ficar em constante movimento de aprendizado e ter a ousadia de se reinventar a partir de novas perspectivas e da compreensão das principais tendências e do seu impacto na produção nacional: novos requerimentos ambientais, novos desenvolvimentos nos processos produtivos e tecnologias disruptivas em canais de vendas.
Vamos pensar, agir, crescer e ampliar o alcance de nossa atuação. Para isso, é fundamental outro dos pilares que definimos para a atuação da Abrafati: continuar a facilitar o acesso a conteúdo e conhecimento.
É assim que temos trabalhado para cumprir a desafiadora missão de impulsionar o crescimento e desenvolvimento sustentável da cadeia de tintas, promovendo a melhoria da qualidade e capacitações do setor com reconhecimento pelos consumidores.
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Artigo de Antonio Carlos de Oliveira, originalmente publicado na revista Química & Derivados, edição 594, de outubro/2018